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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Machados feitos de pedra têm 1,8 milhão de anos

Reinaldo José Lopes
Editor de Ciência e Saúde da FSP.

Os instrumentos de pedra que você vê abaixo são os mais antigos exemplares de uma tecnologia avançada feita por mãos humanas - os iPhones do Paleolítico Inferior, digamos. E a invenção deles acaba de recuar quase 400 mil anos no tempo. 
A conclusão está em artigo na revista "Nature" desta semana. A equipe liderada por Christopher Lepre, da Universidade Columbia (EUA), determinou que os "machados de mão" (como é conhecido esse tipo de ferramenta) encontrados perto do lago Turkana, no Quênia, têm quase 1,8 milhão de anos
A data bate à perfeição com a origem africana do Homo erectus, o primeiro ancestral da humanidade com cérebro avantajado (em torno de dois terços do tamanho do órgão em pessoas de hoje). 
Pode ser, portanto, que os machados de mão sejam a assinatura tecnológica das capacidades mentais ampliadas da linhagem humana nesse período distante. 
Os dados anteriores indicavam que a tecnologia dos machados só tinha surgido há cerca de 1,4 milhão de anos, o que fazia menos sentido diante da história evolutiva dos hominídeos na área.
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MISTÉRIOS  
Ainda assim, alguns mistérios permanecem, a começar pela utilidade dos instrumentos. Arqueólogos chegaram a criar suas próprias réplicas dos machados e, em experimentos, mostraram que eles seriam ótimos para cortar carne e abrir ossos de animais em busca do tutano, excelente fonte de calorias. 
No entanto, apesar da abundância de exemplares da tecnologia, há poucos casos de marcas de uso efetivo das ferramentas. De quebra, a arte de produzir machados de mão pouco mudou ao longo dos centenas de milhares de anos em que foi praticada. 
Para alguns pesquisadores, isso sugere que as ferramentas não eram produzidas para propósitos práticos, mas serviam como uma exibição de destreza para seus criadores - algo como uma cauda de pavão para hominídeos, por assim dizer. 
Seja como for, o certo é que, na própria região do lago Turkana, os machados eram produzidos lado a lado com instrumentos mais toscos, os da chamada cultura olduvaiense, que vão pouco além de seixos com uma superfície cortante artificial.
Para Christopher Lepre e seus colegas, isso pode indicar que mais de uma espécie de hominídeo, cada uma delas com sua própria tecnologia característica, teria compartilhado as margens do lago queniano na época. 
A tecnologia dos machados depois se espalhou por todas as áreas do mundo habitadas por hominídeos, chegando a locais tão distantes quanto Reino Unido e China. No entanto, nos mais antigos registros da presença do Homo erectus fora da África, ela não está presente - fato que ainda precisa ser explicado. 
Publicado na Folha de São Paulo em 01/09/2011 - 08h26 

Clique aqui para ir à página do artigo publicado na Nature.

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