Modelo 3D - Cálice funerário Jê

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

UMA SARAIVADA DE [pontas de] FLECHAS!!!

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Na semana passada uma equipe do MAC esteve na cidade de Poços de Caldas - MG, para receber uma coleção de artefatos arqueológicos indígenas, pré-históricos, reunida por Rodrigo Ferreira, que trabalha no comércio local e é estudante universitário (ft. 1).

Rodrigo nos contou que durante sua infância e adolescência, passadas no município de Areado - MG, em saídas para pescar, na zona rural, sempre se deparava com certos locais aonde via aflorar pedras estranhas, com formatos diferentes do usual. Algumas delas, pequenas e pontudas, seu pai atribuía a "bugres antigos", que teriam habitado a região; outras, maiores e rombudas, eram atribuídas por vários moradores locais aos raios e trovões, "pedras de raio" diziam, raios e trovões que voltavam para resgatar suas crias, sete anos passados desde sua chegada à terra.

Mas a despeito dos vaticínios de seus vizinhos, Rodrigo foi guardando, peça a peça, ponto a ponto, cada estranheza que notava, ao longo de oito anos. Mirou no que viu. Já na graduação, cursando História, ao entrar em contato com o Prof. Alexandre Robazzini, da UNIFEOB, arqueólogo, aprendeu mais sobre o tesouro que guardava. As pontas de flecha poderiam ter uma antiguidade superior a sete milênios, e as pedras de raio, eram machados de pedra polida, de povos agricultores, que produziam cerâmica, e que habitaram as regiões do sul de Minas e norte de São Paulo, em datas que variam entre os séculos X e XVII da era cristã. Acertou no que não viu.

Aconselhado por seu professor, Rodrigo decidiu contatar o Museu Arqueológico do Carste do Alto São Francisco (MAC), para doar toda a coleção que reunira. Foram alguns meses de conversação que culminaram no traslado do material, que ora se encontra em nossa reserva técnica. Na oportunidade, enfatizamos a necessidade de proteção dos sítios arqueológicos, jazidas de conhecimento que devem permanecer intocadas, até que pesquisas científicas, levadas a cabo por profissionais de arqueologia, possam ser executadas. Quanto a esse ponto, ele se mostrou plenamente de acordo, afirmando que realmente não tinha qualquer informação sobre a proteção sobre tais locais, até que veio a estudar História e ter contato com o Prof. Robazzini, que também já o teria advertido sobre a necessidade de cessar e desencorajar qualquer tipo de coleta amadora.

A coleção conta com mais de treze dezenas de exemplares de pontas de flecha, produzidas através do lascamento bifacial de vários tipos de rochas cristalizadas: quartzos, quartzitos, sílex, etc (ft. 4). Há diferentes formas deste artefato, uma em especial, muito rara, possui formato foliáceo, ao modo de um triângulo isósceles, sem pedúnculo, com a borda de encaixe côncava e as bordas laterais convexas (ft. 5). Há um pequenino pingente de rocha polida, com o furo, perfeito, para passar um cordão (ft. 3). A coleção conta ainda com lâminas de machado polido (ft. 2), uma delas com 6 cm de tamanho e outra com 27 cm, maceradores (mãos de pilão), um fuso cerâmico, e alguns outros artefatos.

Todo o conjunto de peças está depositado na reserva técnica do MAC e passa por uma curadoria no laboratório de Arqueologia. Rodrigo manifestou a intenção de utilizar as informações obtidas com o estudo destes acervo, e de seu sítio arqueológico de origem, para elaborar seu trabalho de conclusão de curso (TCC), o que exigirá sua vinda ao museu para participar de algumas atividades. O próximo passo é conseguir levantar o ponto de origem de cada uma das peças. E que ressoem os trovões...

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G. H.

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